domingo, 4 de abril de 2010

Carência

A carência afetiva está se transformando em uma epidemia.
Vivemos num mundo onde tudo o que fazemos nos induz a “ter” cada vez mais; um celular novo, um sapato de outra cor, uma roupa de marca famosa, uma viagem …
Tenho a impressão de estarmos todos tentando satisfazer um mesmo desejo, porém de maneira tão individualista e ansiosa que muitas vezes não percebemos a noção do que realmente importa.
Algumas pessoas não conseguem descrever, mas na maioria das vezes, a sensação é de “vazio” ou de que “algo precisa ser preenchido” . Tentamos buscar o preenchimento desta falta no relacionamento e muitas vezes acabam cobrando coisas que muitas vezes não é possível receber. Muitos problemas de relacionamento começam exatamente nesse ponto.
Outras pessoas ao se sentirem carentes, doam intensamente seu amor ao companheiro, oferecendo toda espécie de carinho, afeto, agrado, abrindo mão de sua própria vida em função do outro. O companheiro vem em primeiro lugar, muitas vezes acabam abrindo mão de seus amigos, trabalho, família, filhos, simplesmente para satisfazê-lo.
A grande maioria não consegue se satisfazer com o que recebem. Com o que são, com o seu trabalho, com a sua vida.
Sugam a energia dos que estão a sua volta exigindo atenção constate, querendo agradar, querendo ser uma boa dona de casa, esposa e amante. Muitas vezes tornam-se exigentes, querendo sempre mais, pois os outros ficam sempre devendo em questões como apoio, atenção e segurança.
A infância de pessoas carentes geralmente foi privada de amor, carinho ou atitudes mais afetivas. Algumas famílias muito rígidas também tendem a desenvolver filhos inseguros que geralmente sofrem com a sensação de “vazio”. Geralmente a carência afetiva atrai relacionamentos confusos e insatisfatórios. Este perfil quase sempre dá mais do que recebe, faz tudo pelo outro e quando esquece de si mesmo corre o risco de ser menosprezado, rejeitado e não valorizado pelo parceiro.
A carência afetiva também leva muitas mulheres ao consumo, a compulsão, ao shopping, liquidação, compras. É uma busca constante para se sentir melhor, aumentar de qualquer jeito a auto-estima e principalmente tentar preencher algo que está faltando., novamente a importância do “ter “em detrimento de “ser”.
O primeiro passo para administrar o problema é desenvolver a auto-aceitação, melhorando assim a auto-estima. Ser carente é estar em constante busca de algo que nem sempre encontramos no outro ou nas coisas, mas em nós mesmos, é nos descobrirmos sermos a nossa melhor companhia. Por isso, pare de buscar este preenchimento fora e busque encontrá-lo dentro de você.
Há anos tenho problemas com a expressão carência afetiva. Ela sugere que algumas pessoas têm maior necessidade de aconchego do que outras. Que as mais carentes têm direitos especiais, adquiridos em função de uma história de vida particularmente infeliz. Não é isso que percebo. Aqueles que se colocam como carentes tiveram vivências pessoais similares às da maioria das pessoas. Além do mais, não é necessário ser particularmente carente para gostar, e muito, de ser tratado com amor, carinho e atenção.

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